quarta-feira, abril 28

parte de minhas recentes leituras – nº 1

Como não estou escrevendo nada, compartilharei ao menos parte de minhas recentes leituras...

Porque eu amo Jane, amo mesmo; eu a amo como as pessoas deveriam amar umas às outras, sacrificando-se nas coisas pequenas, coisas sem importância, assim como nas grandes, nas decisões importantes da vida. Além disso, ando baixando minhas defesas pessoais, sabe, a ponte levadiça que conduz ao meu ego. Ela está entrando em mim ao mesmo tempo em que estou entrando nela. Eu lhe permiti isso, permiti que visse a minha timidez, a vulnerabilidade no meu rosto quando fazemos amor. Parece meloso, não é? Babaquice, não acha? Mas é a verdade, o amor é isso, é gostar dessas idiotices cafonas, disputar juntos a maratona de babaquice e ir até a linha de chegada.

terça-feira, março 16

porra, são paulo!

Há pouco tempo ouvi alguém falar de Will Self. Seu nome veio à tona em uma conversa de bar. Passada a ressaca do dia seguinte comecei a pesquisar sobre o cara na internet. Entre “lidas e vindas” sobre a vida e a obra do jornalista e escritor inglês de 48 anos, uma resenha sobre seu último livro, O livro de Dave, publicado em 2006 e recentemente traduzido para o português, me chamou a atenção. Self narra em seu livro a trajetória de Dave, um taxista londrino que atormentado pela ex-esposa e por todos os outros males do mundo moderno, escreve um livro glorificando uma nova ordem suprema: o Conhecimento dos taxistas. Todavia, Dave, em um momento de loucura, certamente por obra e graça de sua ex-mulher, que o havia proibido de ver o filho, enterra seu livro que, séculos mais tarde, após uma catástrofe ambiental que arrasa o planeta, é encontrado e transformado na obra sagrada de um povo escolhido, onde a “roda” é o símbolo supremo e seus sacerdotes são chamados de “motoristas”!

Mas o que realmente importa é que esta história é apenas o prefácio de uma outra história ainda mais esclarecedora sobre mentiras, verdades e dogmas contemporâneos.

Empolgado com a resenha do livro do Self e, aproveitando minha visita à capital brasileira da cultura, das enchentes e dos congestionamentos, segui em busca de um exemplar do recém publicado O Livro de Dave, cujo autor vem sendo apontado pela crítica especializada como um dos mais inovadores escritores contemporâneos. Enfim, não poderia existir melhor lugar para comprar um exemplar do livro se não São Paulo.

Subi ofegante a Alameda Joaquim Eugênio de Lima, esperei o sinal e cruzei a Av. Paulista até a entrada principal da Fnac, espécie de livraria-papelaria-cafeteria-padaria-hospedaria onde, de acordo com informações, eu poderia encontrar o manuscrito do Novo Testamento, autografado por Mateus, Marcos e Lucas e dividido em até 12 x s/juros no cartão. Infelizmente, perdi a viagem, não tinham o livro disponível em estoque, pois este se encontrava abarrotado por um cem número de "livros que deram origem ao filme”, alguns poucos exemplares do Antigo Testamento autografados por Abraão e outras centenas de exemplares da enfadonha e pré-adolescente saga de Crepúsculo. Infelizmente é impossível entrar em uma dessas livrarias e não ser assediado quase que sexualmente pelos livros desta saga, que pulam da prateleira em cima de qualquer leitor em potencial.

Detive minha indignação, pois não seria essa multi-drug-megastore, símbolo contemporâneo da “cultura de consumo” que me faria desistir, e segui confiante para aquele que é reconhecidamente um, ou talvez quem sabe, o maior templo do “consumo cultural” paulistano: a Livraria da Cultura. Ao chegar ao templo, observando jovens, senhoras e crianças espalhados pela livraria, ávidos por livros, ávidos por conhecimento, confesso, fui arrebatado por uma esperança genuinamente brasileira e, sem esquecer de manter uma distância segura dos inúmeros exemplares da "saga maldita" espalhada pelas prateleiras, consultei o atendente mais próximo sobre a disponilidade de O Livro de Dave em seu estoque e...

Porra, São Paulo! Capital da Cultura? Porra, São Paulo! Já não bastava uma Rua Galvão Bueno no bairro da Liberdade não acho uma merda de exemplar da merda do livro do merda do Dave nessa merda de cidade? Porra, São Paulo!

p.s. Voltando despretensiosamente do trabalho em uma terça-feira chuvosa, adentrei no Shopping Nova América, localizado no pitoresco bairro carioca e suburbano de Del Castilho. Com a única intenção de esperar a chuva passar percorri os corredores de uma pequena livraria no interior do Shopping e eis que encontro, “enterrado” na última prateleira da última coluna, aquela próxima a porta de acesso restrito aos funcionários, o livro, O livro de Dave! Fui arrebatado por um orgulho genuinamente carioca!

quinta-feira, março 11

malicious software

Definitivamente, não fui concebido para o trabalho, talvez tenha sido uma grave falha de programação ou, quem sabe, tenha sido infectado na infância por um malware, enfim, detesto acordar cedo, não sou afeito a idéia de ter um chefe, tenho uma imensa dificuldade em fingir estar trabalhando quando não estou disposto ou, simplesmente, de ressaca e, por final, tenho o mais desagradável dos defeitos desagradáveis que um homem pode ter: o péssimo hábito de pensar, algo absolutamente inaceitável para a economia e o “sistema de cotas” contemporâneo, sistema este que estabelece que não mais de 2% da população mundial pode pensar e, quando falamos de Terceiro Mundo, mais especificamente de América Latina, essa cota é ainda menor, pois somente 0,3% dos latinos têm a permissão de pensar e, daqueles que pensam, 98% devem se dedicar a atividades que mantenham a “balança exploracional” em equilíbrio, ou seja, entre essas importantes atividades destaca-se a atividade do criador de propagandas criativas que aumentam as vendas e, consequentemente, aumentam a produção e, consequentemente, aumentam o controle e a mongolização social e, consequentemente, sustentam tudo como está. Ainda vale ressaltar que apenas 2% dos 0,3% de todos os latinos do mundo que podem pensar têm a liberdade de pensar em cultura: arte, cinema, televisão. Não, televisão, não... arte, cinema e etc., sendo que todo o conjunto desses homens que podem pensar em cultura: arte, cinema e etc., ou seja, a totalidade desses homens tem a obrigatoriedade de adotar como modelo de pensador contemporâneo o visionário-filósofo-cineasta e criador de video games James Cameron e, obviamente, aceitar e enaltecer Avatar como um paradigma da boa arte, exemplo ímpar de nossa capacidade de realização e grandeza cultural. Mas como havia falado inicialmente, não fui realmente concebido para o trabalho. Há quase 2 anos sendo pago por inescrupulosos expropriadores de minha capacidade de criação e juventude, impedido de questionar, reclamar, escrever e principalmente pensar, seja pela falta de tempo entre o ônibus, o trabalho, o mercado e o sofá, ou pelas noites mal dormidas e as contas vencidas esperando o pagamento atrasado, percebo o fim de uma longa jornada chegar. Ainda não sei exatamente onde está a saída, mas o fim do túnel está perto, posso sentir a brisa quente e o cheiro de merda vindo de algum lugar.

quarta-feira, março 10

diário de uma vida a 3 – descrição do personagem C

Pobre, feio e sonhador... Ele acreditava poder mudar alguma coisa, mas começa a se dar por satisfeito em mudar de canal, sem precisar levantar do sofá, após um longo dia de trabalho. Entretanto, e apesar da resignação aparente, vez ou outra é acometido por uma esperança recalcitrante em mudar alguma coisa. Assemelha-se aos personagens A e B por defenderem o poder antidepressivo da cevada, e por acreditarem, piamente, que a neosaldina dará conta de todo resto.

quarta-feira, junho 24

diário de uma vida a 3 - descrição do personagem B

Rapaz franzino e de poucos pelos. Inapto a extravagâncias, não precisa de nada além de um adidas velho, acesso ilimitado a todo o tipo de pornografia disponível na internet, música, macarrão e molho pronto. Teme as lacraias com a mesma intensidade que teme os relacionamentos amorosos duradouros. Assemelha-se ao personagem C por sua “facilidade” de adaptação ao mundo do trabalho e visão economicamente empreendedora.

quinta-feira, junho 11

diário de uma vida a 3 - descrição do personagem A

Sofre de uma espécie de mau humor crônico. É um perito na arte da escamoteação de projetos arquitetônicos mal elaborados. Destaca-se dos demais personagens por sua acentuada protuberância abdominal. Costuma compensar a falta de sexo por barras e mais barras de toblerone. Assemelha-se ao personagem B pela inocente esperança de reconhecimento tardio de suas habilidades musicais.

terça-feira, maio 26

diário de uma vida a 3

Este diário não é um romance. Este diário não é um conto. Este diário não é uma peça teatral muito menos uma novela mexicana.

Este diário não espera chegar a lugar algum. Este diário não tem por objetivo descrever acontecimentos reais, na verdade, este diário nem sequer é um diário.

p.s. Todavia, pequenas verossimilhanças com a triste vida de 3 pobres coitados não poderão ser negadas...